“Eis Aí Tua Mãe”

“Eis Aí Tua Mãe”

Mensagem da Primeira Presidência, A Liahona, abril de 1998, pág. 3

Certo dia de verão, eu estava sozinho no tranquilo cemitério dos soldados americanos mortos na II Guerra Mundial, nas Filipinas. Havia um espírito de reverência no cálido clima tropical. Em meio aos muitos hectares de gramado cuidadosamente aparado, viam-se pequenas lápides identificando soldados, em sua maioria jovens, que perderam a vida em combate. Enquanto eu lia o nome dos muitos soldados ali homenageados, senti os olhos encherem-se de lágrimas, que deixei correr livremente pelo rosto, ao mesmo tempo em que meu coração se enchia de orgulho. Pensei no alto preço da liberdade e no inestimável sacrifício exigido de muitas pessoas.
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Meus pensamentos voltaram-se para aqueles que serviram com bravura e morreram com honra. Pensei então na dor que a mãe de cada soldado morto deve ter sentido ao receber a notícia do sacrifício supremo de seu precioso filho. Quem pode avaliar o sofrimento de uma mãe? Quem pode medir seu amor? Quem pode compreender plenamente o sublime papel da mãe? Tendo perfeita confiança no Senhor, de mãos dadas com Deus, ela atravessa o vale da sombra da morte para que cada um de nós possa nascer.

As palavras mais sagradas que os lábios possam proferir,
Os pensamentos mais nobres que minha alma possa ter
Não estão à altura do nome
Que é o mais precioso de todos.
Quando eu era bebê, senti seu amor pela primeira vez;
Agora adulto, ainda sinto o mesmo
Quando reverentemente pronuncio seu nome,
Este abençoado título: Mãe.1

As palavras mais sagradas que os lábios possam proferir,

Os pensamentos mais nobres que minha alma possa ter

Não estão à altura do nome

Que é o mais precioso de todos.

Quando eu era bebê, senti seu amor pela primeira vez;

Agora adulto, ainda sinto o mesmo

Quando reverentemente pronuncio seu nome,

Este abençoado título: Mãe.

No espírito desse poema, gostaria de avaliar o papel da mãe. Quatro mães vêm-me à mente: em primeiro lugar, a mãe esquecida; em segundo, a mãe lembrada; em terceiro, a mãe abençoada; e finalmente, a mãe amada.

A MÃE ESQUECIDA

A MÃE ESQUECIDA

Muito frequentemente vemos “mães esquecidas”. Os asilos estão repletos, os leitos de hospital estão todos ocupados, os dias se passam — muitas vezes semanas e meses — mas a mãe não é visitada. Será que conseguimos imaginar a solidão que aflige o coração da mãe que, hora após hora, olha pela janela esperando seus entes queridos que não a visitam, a carta que o carteiro não traz? Ela espera a batida na porta que não vem, o telefone que não toca, a voz que ela não ouve. Como essa mãe deve se sentir quando sua vizinha recebe com alegria o sorriso de um filho, o abraço de uma filha, a alegre saudação de uma criança, dizendo: “Oi, vovó!” Existem, porém, outras maneiras pelas quais esquecemos nossa mãe. Sempre que cometemos um erro, sempre que fazemos menos do que deveríamos, estamos verdadeiramente esquecendo nossa mãe.

Lembro-me de ter conversado certa vez com a proprietária de uma casa de repouso para idosos. Do corredor onde estávamos, ela apontou para várias mulheres idosas reunidas em uma sala tranquila e disse: “Aquela é a Sra. Hansen. Sua filha vem visitá-la todas as semanas, precisamente às três da tarde do domingo. À direita dela está a Sra. Peek. Toda quarta-feira ela recebe uma carta de seu filho que mora em Nova York. Depois de lê-la e relê-la, guarda-a como se fosse um tesouro precioso. Veja, porém, a Sra. Carroll: Sua família nunca telefona, nunca lhe escreve, nunca a visita. Com paciência, ela justifica essa negligência com uma desculpa pouco convincente: ‘São todos tão ocupados’

Que atitude vergonhosa a de todos aqueles que fazem de uma nobre mulher uma “mãe esquecida”.

“Ouve teu pai, que te gerou”, escreveu Salomão, “e não desprezes tua mãe, quando vier a envelhecer.”2

Será que não podemos fazer a mãe esquecida tomar-se a mãe lembrada?

A MÃE LEMBRADA

A MÃE LEMBRADA

Os homens afastam-se do mal e mostram o melhor que têm em si quando a mãe é lembrada. Quando perguntaram a um famoso oficial do período da Guerra Civil Americana, Coronel Higginson, qual era o incidente da Guerra Civil que ele considerava a mais notável demonstração de bravura, ele disse que havia em seu regimento um homem de quem todos gostavam, que era corajoso e nobre, puro em seu dia-a-dia, totalmente livre dos vícios exibidos pela maioria dos outros soldados.

Certa noite, num jantar em que fora servido champanhe, quando muitos estavam ficando bêbados, alguém em tom de brincadeira convidou aquele jovem a fazer um brinde. O coronel Higginson disse que ele se ergueu, pálido mas perfeitamente sóbrio, e declarou: “Cavalheiros, farei um brinde em que podem acompanhar-me se desejarem, mas que irei fazê-lo com um copo d’água. Meu brinde é: ‘À nossa mãe’”.

Imediatamente foi como se um estranho encanto tivesse caído sobre todos aqueles homens semiembriagados. Beberam em silêncio. Não houve mais risadas nem cantorias, e um por um os homens foram deixando o salão. Todos tiveram a memória reavivada, e o nome Mãe tocou cada coração.

Lembro-me muito bem de um Dia das Mães na Escola Dominical do tempo em que eu era menino. Entregamos a cada uma das mães presentes uma plantinha num vaso e sentamo-nos reverentemente, enquanto Melvin Watson, um membro cego, cantava junto ao piano o hino “Minha Maravilhosa Mãe”. Foi a primeira vez que vi um homem cego chorar. Ainda hoje, em minha lembrança, vejo as lágrimas brotando daqueles olhos sem visão, escorrendo em um minúsculo fio d’água até a maçã do rosto para finalmente cair na lapela do terno que ele nunca tinha visto. Em minha pueril ingenuidade, fiquei intrigado ao ver todos os homens adultos em silêncio e tantos lenços sendo utilizados. Hoje compreendo: a mãe fora lembrada. Cada menino, cada menina, todos os pais e maridos pareciam estar fazendo uma promessa silenciosa: “Sempre me lembrarei da minha maravilhosa mãe”.

Há alguns anos, ouvi atentamente um homem de certa idade contar uma experiência de sua família. A mãe viúva tinha partido desta vida para receber seu eterno e muito merecido galardão. A família reuniu-se ao redor da grande mesa de jantar. A pequena caixinha de metal em que a mãe havia guardado seus tesouros terrenos foi aberta com todo o respeito. Um por um, todos os guardados foram tirados da caixa. Havia a certidão de casamento do Templo de Salt Lake. “Oh, agora nossa mãe poderá encontrar-se novamente com nosso pai.” Havia a escritura da humilde casa em que cada um dos filhos havia sido recebido na mortalidade. O valor estimado da casa nem se comparava ao valor que a mãe havia-lhe associado.

Descobriram, então, um envelope amarelado pelo tempo. Abriram-no cuidadosamente e dentro dele encontraram um cartão feito em casa. Sua mensagem simples, escrita em letra de criança, dizia: “Amo você, mãe”. Embora já não estivesse entre eles, a mãe ensinou-lhes outra lição por meio das coisas que considerava sagradas. Fez-se silêncio na sala, e todos da família fizeram a promessa de não apenas lembrarem a mãe, mas de honrarem-na.

A MÃE ABENÇOADA

A MÃE ABENÇOADA

Depois de termos mencionado a “mãe lembrada”, consideremos a “mãe abençoada”. Um dos mais belos e respeitosos exemplos encontra-se nas santas escrituras.

No Novo Testamento de nosso Senhor, talvez não haja mais comovente exemplo de “mãe abençoada” do que a carinhosa atenção do Mestre para com a aflita viúva de Naim.

“E aconteceu que (...) ele foi à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos discípulos, e uma grande multidão;

E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade.

E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores.

E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te.

E o defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o a sua mãe.”3

Que poder, que carinho, que compaixão nosso Mestre e Exemplo demonstrou! Também poderemos abençoar as pessoas se seguirmos Seu nobre exemplo. As oportunidades estão por toda a parte. Precisamos ter olhos para ver a condição lamentável das pessoas, ouvidos para ouvir a súplica de um coração quebrantado, sim, e uma alma cheia de compaixão, para que possamos comunicar-nos não apenas de olho para olho ou de boca para ouvido, mas no estilo majestoso do Salvador, ou seja, de coração para coração. Desse modo, todas as mães do mundo serão “mães abençoadas”.

A MÃE AMADA

A MÃE AMADA

Por fim, consideremos a “mãe amada”. Um poema que aprendi quando menino tem aplicação universal e ainda hoje continua bastante apreciado pelas crianças: “Quem Amou Mais?”

‘Amo você', disse o Joãozinho;
Depois, esquecendo sua tarefa, colocou o boné

E foi brincar no balanço do jardim,
Deixando de trazer a água e a lenha.
“Amo você', disse a saudável Nell
“Mais do que posso expressar.”

Depois, foi irritante e resmungona o dia inteiro,
E a mãe até ficou aliviada quando a viu sair para brincar.
‘Amo você', disse a pequena Fan;
“Vou ajudá-la hoje em tudo que puder,
Ainda bem que hoje não tenho que ir para a escola!'
E assim, ela acalentou o bebê até que dormiu.
Depois, na ponta dos pés, apanhou a vassoura,
Varreu todo o chão e arrumou o quarto;
Passou o dia atarefada e feliz,
Tão prestativa e alegre quanto uma criança pode ser.
“Eu amo você”, disseram todos novamente,
Três crianças preparando-se para dormir.
Quem será que a mãe achou
Que realmente a amava mais que todos?4

‘Amo você', disse o Joãozinho;
Depois, esquecendo sua tarefa, colocou o boné

E foi brincar no balanço do jardim,

Deixando de trazer a água e a lenha.

“Amo você', disse a saudável Nell
“Mais do que posso expressar.”

Depois, foi irritante e resmungona o dia inteiro,

E a mãe até ficou aliviada quando a viu sair para brincar.

‘Amo você', disse a pequena Fan;

“Vou ajudá-la hoje em tudo que puder,

Ainda bem que hoje não tenho que ir para a escola!'

E assim, ela acalentou o bebê até que dormiu.

Depois, na ponta dos pés, apanhou a vassoura,

Varreu todo o chão e arrumou o quarto;

Passou o dia atarefada e feliz,

Tão prestativa e alegre quanto uma criança pode ser.

“Eu amo você”, disseram todos novamente,

Três crianças preparando-se para dormir.

Quem será que a mãe achou

Que realmente a amava mais que todos?4

Um modo seguro de demonstrarmos amor sincero pela mãe é viver as verdades que ela nos ensinou com tanta paciência. Essa meta sublime não é privilégio exclusivo da geração atual. No Livro de Mórmon, lemos a respeito de um nobre, bom e corajoso líder chamado Helamã que travou uma batalha justa à frente de dois mil jovens. Helamã descreve o modo de agir desses jovens:

“Eu nunca presenciara tão grande coragem (...) [como quando] responderam-me: Pai, eis que nosso Deus está conosco e não permitirá que sejamos vencidos; então avancemos. (...)

Ora, eles nunca haviam lutado. Não obstante, não temiam a morte; (...) sim, eles tinham sido ensinados por suas mães que, se não duvidassem, Deus os livraria.

E repetiram-me as palavras de suas mães, dizendo: Não duvidamos de que nossas mães o soubessem.”5 No final da batalha, Helamã continuou sua descrição: “Eis que, para minha grande alegria, nenhum deles havia caído por terra; sim, e haviam lutado como que com a força de Deus; sim, nunca se soube de homens que tivessem lutado com força tão miraculosa”.6

Força miraculosa, grandioso poder: o amor de mãe e o amor pela mãe juntaram-se e triunfaram.

As santas escrituras e as páginas da história estão repletas de relatos carinhosos, tocantes e convincentes de “mães amadas”. Um deles, porém, tem supremacia sobre os demais. O local é Jerusalém, no período conhecido como o meridiano dos tempos. Estão reunidos grande número de soldados romanos. Seus capacetes simbolizam sua lealdade a César, seus escudos exibem seu emblema, suas espadas estão coroadas com a águia romana. Ali também estão reunidos alguns moradores da terra de Jerusalém. Dissipados na quieta noite e silenciados para sempre foram os rudes e hostis clamores, que exigiam: “Crucifica-o, crucifica-o”.

Era chegada a hora. O ministério pessoal e terreno do Filho de Deus aproximava-se rapidamente de seu dramático desfecho. Havia um certo sentimento de solidão no ar. Em parte alguma viam-se os aleijados que andavam por causa daquele homem; os surdos que ouviam por causa daquele homem, os mortos que viviam por causa daquele homem.

Permaneceram com Ele uns poucos seguidores fiéis. Em Sua dolorosa condição na cruel cruz, Ele vê Sua mãe e o discípulo a quem Ele amava. Ele diz: “Mulher, eis aí o teu filho! Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe”.7

Desde aquela hora fatídica em que o tempo parou, a terra tremeu e grandes montanhas foram trazidas abaixo — sim, por meio dos registros da história, ao longo dos séculos e além do tempo — ecoam Suas simples mas divinas palavras: “Eis aí tua mãe”.

Se realmente dermos ouvidos a essa ordem branda e com alegria obedecermos a ela, para sempre desaparecerão as imensas legiões de “mães esquecidas”. Sempre presentes estarão as “mães lembradas”, “mães abençoadas” e as “mães amadas”. E tal como no princípio, Deus novamente avaliará o trabalho de Suas mãos e dirá: “É muito bom”.8

Entesouremos em nosso coração esta verdade: Não é possível esquecer nossa mãe e lembrar-nos de Deus. Não é possível lembrar-nos de nossa mãe e esquecer-nos de Deus. Por quê? Porque essas duas pessoas sagradas, Deus e mãe, parceiros na criação, no amor, no sacrifício e no serviço ao próximo, são um.

NOTAS

1.    George Griffith Fether, “The Name of Mother”, em Best-Loved Poems of the LDS People, organizado por Jack M. Lyon e outros (1996), p. 218.
2.    Provérbios 23:22.
3.    Lucas 7:11-15.
4.    Joy Allison, em Best-Loved Poems of the LDS People, pp. 217-218.
5.    Alma 56:45-48.
6.    Alma 56:56.
7.    João 19:26-27.
8.    Ver Gênesis 1:31.

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